Anime e Filosofia #02 — Mob Psycho 100: A importância da insignificância

Daniel Medeiros
6 min readApr 18, 2019

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Retomando o que eu gostaria que se tornasse uma série de textos no meu perfil venho com minha opinião sobre Mob Psycho 100, e sua relação com a filosofia.

Mob Psycho 100 é um dos melhores (quiçá o melhor) anime dessa temporada, bastante aclamado pela animação bem feita, lições de vida e personagens cativantes, mas há muito além de Mob do que a história de um garoto com poderes telecinéticos, existe uma história sobre o sentimento de insignificância, e de certa forma, humildade.

O texto tem alguns spoilers, então se não assistiu pelo menos a primeira temporada do anime (vai lá, só 12 episódios), não recomendo que leia.

O Sublime e a insignificância

Edmund Burke, autor do livro “Investigação filosófica sobre a origem de nossas ideias do Sublime e do Belo”

Começando a contextualização filosófica, o Sublime, conceito filosófico cunhado por Edmund Burke, se resume, em sentido amplo, a uma experiência alcançada somente quanto percebemos nossa insignificância perante coisas maiores, e como nossos problemas diários são mundanos diante da vastidão do universo.

Essa experiência, segundo Burke, é necessária para todo homem, e deveria ser procurada com regularidade, pois somente na insignificância, paradoxalmente nos tornamos maiores, nos libertando do nosso ego,e da vontade de querer sentir-se maior que o próximo, que podemos realmente evoluir, e crescer como seres humanos.

Mergulhando um pouco mais a fundo no Sublime, Immanuel Kant, filósofo idealista, famoso pelo trabalho na epistemologia e no pensamento racional, também discutiu sobre o sublime, diferenciando-o em tipos, mas para os propósitos deste texto, ficaremos com o “sublime nobre”, que consiste na nobreza que existe na simplicidade, que é exatamente o que encontramos em Mob Psycho 100.

Um protagonista insignificante

Kageyama Shigeo, nosso querido Mob, é um protagonista, que a primeira vista, é insignificante, um garoto do colegial japonês, com poucas ambições, e que passa despercebido por todos, exceto que Mob é detentor do maior poder psíquico já visto no mundo do anime (exceto talvez pelo Keiji Mogami), mas isso não parece o animar muito, visto que seus objetivos são, através da musculação, e o Clube do Fomento Corporal, ganhar um corpo bonito para conseguir falar com garotas, bem mundano para alguém com poderes tão grandes, não?

Mob mostra no anime aversão pelo uso de seus poderes, pois acredita que deve se esforçar para alcançar algo que não dependa deles. E admira bastante seu irmão, que é inteligente e se integra socialmente, mesmo não tendo poderes, o que contrasta diretamente o fato de seu irmão, ter muita inveja de Mob, justamente pelos seus poderes, e que para o mesmo, isso não parece importar muito.

Mob representa em si, a figura do homem que busca o sublime, mesmo que não saiba, diminuindo-se para depois engrandecer-se, deixando de lado o ego, e experienciando o sublime.

Um mestre charlatão

Uma figura que ajuda o Mob em sua jornada, e na descoberta do Sublime, é o seu mestre, Arataka Reigen, um charlatão com um escritório paranormal, que oferece serviços de “exorcismo”, que posa de grande paranormal, mas na verdade não possui nenhum poder psíquico.

Mas mesmo assim, Reigen é vital na forma que Mob encara seus poderes e o mundo, no seu famoso discurso sobre como cada pessoa tem uma peculiaridade, e que os poderes são apenas algo que tornam o Mob quem ele é, e que todos devíamos aspirar ser boas pessoas, em vez de nos colocarmos em pedestais por nossas características, ou na sarjeta por falta de algumas.

Diálogo que inspirou o Mob pelo resto do anime

Mob e seu mundo

Mob conhece várias figuras interessantes, que o mudam, e que ele as muda no decorrer do anime, que merecem menções, a primeira delas, o “Covinhas”, que mesmo com sua natureza egoísta, e de que seu plano original ser possuir o corpo do Mob pra usar os seus poderes, ele muda após perceber sua insignificância perante o poder de Mob, e se torna uma pessoa/espírito que experienciou o Sublime.

Covinhas, o espírito parceiro

Logo em seguida, temos o segundo antagonista que muda após conhecer Mob, o paranormal Teruki Hanazawa, um colegial da mesma faixa de idade de Mob, mas que usa seus poderes e tem uma visão totalmente diferente. Ele acredita que seus poderes lhe tornam especiais, e que lhe fazem ser o protagonista desse mundo, se colocando num patamar muito acima de todos, mas que muda completamente após ser derrotado por Mob, onde ele percebe sua insignificância, e o alívio na experiência de admiti-la.

Teruki Hanagawa

Tá, o Mob mudou muitas pessoas e as fez observar e sentir o sublime, através do sentimento de insignificância, resignação de suas expectativas e pedestais próprios, mas como que ele mesmo se sente insignificante, e experimenta o sublime, quando é um dos seres mais poderosos da terra?

A resposta está nos últimos episódios da primeira temporada, mais especificamente na cena onde o Mob está enfrentando o líder da 7ª divisão da Garra, e está prestes a explodir, deixando suas emoções tomarem controle, quando o Reigen, o traz de volta para a realidade, e lhe diz que não se precisa resolver tudo, as vezes é bom fugir, afinal ele só uma criança.

Momento em que o Mob experimenta com o sublime

Neste momento o Mob sente-se pequeno, e insignificante, e experimenta o sublime, mesmo sendo um dos seres mais poderosos da terra, pois ele vê que não tem deméritos em deixar a situação ser resolvida por outra pessoa, deixando de lado seu ego, e transferindo seu poder para seu mestre, que finaliza o confronto.

Conclusão

Mob Psycho 100 tem lições valiosas sobre a vida, e faz com que nós, que assistimos, experimentemos, mesmo que de forma contida, o sublime, e por isso, vale a pena o tempo, e também a leitura sobre os conceitos.

Não falei sobre a 2ª temporada, pois acho que o foco dela é outro, apesar de existirem momentos em que os conceitos que explorei aqui se aplicam, talvez eu faça um texto explorando outros tópicos na 2ª temporada, ou não, xD, mas de toda forma, fica o meu agradecimento caso tenha lido até aqui.

Um abraço!

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Daniel Medeiros
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Written by Daniel Medeiros

26, entusiasta de card games, estudante de administração e apreciador de conhecimentos inúteis

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