Do Magical Scientist aos Tearlaments: Um ensaio sobre Fusão — Parte 1: Polimerização
Polimerização: reações químicas intermoleculares pelas quais os monômeros são ligados na forma de meros à estrutura molecular da cadeia. Os monômeros reagem entre si formando uma longa sequência de unidades repetitivas (meros). — PMT Universidade de São Paulo
A mecânica de fusão foi uma das mecânicas a serem lançadas junto com o TCG de Yu-Gi-Oh! (YGO pra abreviar daqui pra frente). E com isso nos deu o conceito de juntar dois ou mais monstros para combinarem em um monstro mais forte. A carta que permitia fazer isso, ‘’Polimerização’’, pegou seu nome emprestado de um processo químico, como expliquei ali em cima.
A polimerização, ou só ‘’Poly’’ como chamamos carinhosamente, não foi uma carta muito bem vista pelos jogadores mais competitivos do início da vida do YGO. Tendo em vista que todos (ou quase todos) os monstros de fusão da época tinham efeitos ruins (quando tinham efeitos), e não compensavam o investimento de usar no deck.
O conceito de vantagem de carta e de teoria de card games já existia quando YGO chegou nas prateleiras do ocidente. Magic: The Gathering já tinha pelo menos 10 anos e com isso já existiam conceitos e heurísticas a serem transferidos para um novo card game. Analisando puramente de um ponto de vista competitivo, as fusões iniciais e a mecânica em si (a spell de fusão, e os materiais) eram muito ruins.
Existiam fusões com efeitos decentes, como Thousand-Eyes Restrict, Ryu Senshi, Dark Balter e afins. Mas nenhuma delas era invocado de forma apropriada. A única forma que fusões eram usadas, quando usadas, já que as outras estratégias de Chaos Control eram incrivelmente superiores.
A fábula do cientista e a tartaruga
Chaos Control, como é de conhecimento público, se tornou o melhor deck disparado no formato longínquo ano de 2004. Monstros como o Black Luster Envoy of the Beginning e o Chaos Emperor Dragon engoliam o formato com seus efeitos que não davam muita ou sequer alguma chance do oponente reagir. Se lembrem que isso era 2004, não existiam handtraps, não existiam efeitos de negação de efeitos, ou se existiam, eram raros e bastante condicionais. Quando um monstro dos Chaos entrava, geralmente era o fim do jogo.
O único deck que conseguia com muito esforço, mas de forma possível, ganhar do Chaos com alguma frequência, era o Magical Scientist FTK. O conceito do deck é simples: Junte o Magical Scientist e a Catapult Turtle juntos no campo, e você consegue matar seu oponente no mesmo turno. O deck fazia isso através de cartas de consistência como Last Will e as infinitas cartas de compra que a época permitia.
Os bodes de mil olhos
Com a limitação e o eventual banimento do nosso querido amigo cientista (e também o enterro do Chaos Emperor e do Yata-Garasu), nós chegamos no querido, amado e controverso Goat Format. Em resumo rápido, o formato utiliza cartas do começo do jogo até a coleção The Lost Millenium, e também a banlist vigente de sua época. O Goat Control, deck que deu nome ao formato, era um deck simples que usava a carta Scapegoat para se defender de ataques, e com os tokens que sobrava, utilizava a carta Metamorfose para tributar um token e invocar o Thousand-Eyes Restrict, que era a melhor fusão da época.
O deck se utilizava de estratégias simples focadas em vantagem de carta, a engine Chaos que ainda restava (como a única cópia do BLS e os Chaos Sorcerers) para controlar o oponente e alcançar a vitória. Mas o deck não utilizava somente o Thousand-Eyes com a Metamorfose, como o deck tinha uma variedade de monstros de níveis diferentes, fusões como o Ryu Senshi, Dark Balter e até mesmo o Gatling Dragon eram usados para situações específicas.
O Cyber original
Para fechar a parte 1, que cobre a era do Duel Monsters, falo sobre a melhor carta da época (talvez até de todos os tempos) que colocava fusões direto em jogo: O poderoso Cyber-Stein. Lançado originalmente como uma prize card de Shonen Jump Championship (carta dada apenas para vencedores do equivalente ao YCS da época), o amiguinho robótico encontrou um reprint na coleção Dark Beginning 2, coleção feita exatamente para imports e reprints.
O Cyber-Stein podia, pela bagatela de apenas 5000 pontos de vida, invocar qualquer (sim, qualquer) fusão do seu Extra Deck (ou Fusion Deck como era chamado na época) em modo de ataque. Limpo e seco, curto e grosso. Antes do aspirante a Frankenstein ser usado para invocar o Cyber Twin Dragon e o Cyber End Dragon, ele era usado para invocar estrelas como The Last Warrior from Another Planet, que agia como uma floodgate poderosíssima e também monstros grandes como o Master of Oz .
O fim dos monstros de duelo
Para finalizar de vez a época do DM, é irônico perceber que as fusões não viram nenhum jogo da forma ‘’correta’’ na primeira era do jogo. Em vez disso, o grupo seleto de fusões que via jogo consistia em serem invocadas através de efeitos alternativos, deixando a carta que criou a mecânica, nossa querida Poly, completamente defasada e ultrapassada já nos primeiros anos de vida.
Com isso finalizo a parte 1 da minha série sobre fusões, na próxima parte focarei na era do GX até o fim das coleções que antecedem o 5ds. Espero te encontrar lá, se leu até aqui, obrigado e um abraço!