Filosofia das Guildas #4: Orzhov e Max Weber
Depois de 3 anos e os pedidos incessante dos fãs (ironia), decidi voltar a escrever sobre as Guildas de Ravnica e suas relações filosóficas com a filosofia do mundo real. Em vez de me limitar a falar sobre a filosofia da guilda em si, sempre tento traçar um paralelo com filósofos e/ou sociólogos da história.
E hoje vou falar sobre a guilda Branca e Preta, os Orzhov. Os Orzhov, ou o Sindicato Orzhov, como são chamados por nome completo, são a guilda das negociações em Ravnica, a guilda dos negócios, das vendas e do comércio, mas ao mesmo tempo também são a guilda da religião, das igrejas e concílios, dos pontífices e padres, e justamente representam um aspecto bem peculiar da filosofia e da construção de mundo do Magic: O capitalismo.
Como sociedade moderna e baseada num mundo pós-revolução industrial, o capitalismo e a burguesia comerciante existem na forma dos Orzhov, um grupo de pontífices, fantasmas, Thrulls (que são a força braçal) e padres que se disfarçam sobre o viés da religião para praticar negócios obscuros e ilegais.
Os Orzhov emprestam dinheiro, e agem como sindicato criminal de Ravnica, ao ponto de que quase (quiçá todos) os negócios do plano tem alguma ligação com eles, e eles não perdoam nem os mortos com suas dívidas, devedores que morrem devem servir aos Orzhov como fantasmas até sua divida ser saldada.
Ética Religiosa e Capitalismo
Eu tentei não repetir os nomes, já que já usei Max Weber pra falar dos Azorius, mas infelizmente o Marquinhos se encaixa muito bem no tema de hoje: Religião e Capitalismo.
Max argumenta em sua obra ‘’A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’’, que o indivíduo que pratica da abnegação (da negação do gozo momentâneo, leia-se que abdica dos prazeres terrenos), racionaliza suas ações e seu trabalho possui um espírito capitalista.
O que ele quis dizer com isso? Que aquele que tem virtudes que a igreja protestante prega, como paciência, negação dos prazeres instantâneos, que poupa dinheiro e valoriza o trabalho, tem uma inclinação natural para o capitalismo, ele une as propriedades de acúmulo de capital presentes no pensamento capitalista, e a racionalização do trabalho e dos costumes protestantes.
Em termos mais simples, o homem religioso tem uma tendência a ser mais capitalista, por uma questão de dever, onde ambos homens (o religioso e o capitalista) possuem um senso de dever e vocação para com aquilo que acreditam.
Cores inimigas, objetivos parecidos
Todo mundo sabe que branco e preto são inimigos na color-pie, representam coisas opostas, mas sua combinação traz o pior/melhor das duas cores.
O Branco nos Orzhov representa a religião organizada, o senso de comunidade pregado e da burocracia e dogmas religiosos, assim como a hierarquia que existe dentro da igreja Orzhova. Os Orzhov trazem o lado ruim do Branco à tona, o lado engessado e dogmático da religião, que se recusa a mudar e sempre prega de acordo com a palavra.
O branco nas cartas pode ser visto como as cartas que geram tokens, ou também nas cartas que coletam impostos e fazem efeitos de stax, como ‘’Coletor de Dízimo’’, que apesar de ser uma carta monowhite, representa perfeitamente a guilda, tanto mecanicamente quanto em questão de flavor.
O Preto por sua vez representa o aspecto de morte, de malícia e de obscuridade dos Orzhov, representam a outra face da Guilda, a face criminal que lucra com os crimes do Plano de Ravnica, e que extorque e amedronta os menos afortunados. A Impositora Orzhov representa bem esse aspecto de extorsão e chantagem.
A junção das duas cores traz efeitos poderosos, que taxam, drenam e agridem o adversário, e na minha opinião, a carta que melhor representa a guilda é ‘’Blind Obedience’’. Tanto o aspecto de stax da carta, quanto o extorquir se unem perfeitamente na carta que representa a filosofia dos Orzhov: Culpa cria estrutura, estrutura cria dinheiro e dinheiro é poder.
Se leu até aqui espero que tenha gostado, e um abraço!
